A minha primeira meia maratona.
Achei que, quando a terminasse, ia chorar. Ia fazer um discurso de agradecimento pomposo. Depois ia-me dar para saltar e rir e achar que estava pronta para outra já amanhã.
Não.
Não treinei como treinei há um ano. Não estava ansiosa como estava há um ano. Já tinha desistido do sonho.
Fiz a porcaria de 21km, como fosse um grande feito. Não é. Fiz um tempo bem mau. Terminei sem conseguir sequer dar um sprint. Achei que ia vomitar nos quilómetros finais.
Foi tudo ao contrário do que planeei. Comecei bem, bem-disposta. Aos 8km e depois da "pior"subida estava sem dores, sem sede, sem fome, a apreciar o momento. Sorria sem sofrimento.
Vi muita gente. Gente de verdade que ia a sofrer mas ia a dar o máximo. Eu ia confortável. Admirava as centenas de pessoas à minha frente mas estava bem com a minha posição.
Ao km 15, a coisa começa a descambar. As pernas não iam mais rápido do que aquilo. O quê? Vim a poupar-me para isto? Não dava. Não conseguia mais mas sorria. Era suposto avançar atletas, ganhar animo mas o máximo que conseguia era manter-me a rolar à misera velocidade. Acabei a mais de 6'km. Eu queria mais mas não. Cheguei a sentir-me tonta, a menos de 2km da meta.
E quando vi a meta?Não saltaram borboletas imaginárias nem nenhuma epifania surgiu. O meu irmão deu-me a mão, cruzámos a meta e está. Nem falar, nem parar, só em frente.
Porque temos sonhos que nos fazem sofrer? Agora, aqui sentada, enquanto escrevo, sinto-me realizada. Mas as dores musculares estão aqui a comprovarem que amanhã será pior. E que depois disto, o que quer que venha, terá de ser maior.
Mas eu não quero nada maior. Não vão haver maratonas, podem estar descansados. Nem trails de 50km. Por mais parvo que pareça, os ultimos meses em que voltei a correr não fui feliz. E os tempos mostraram-me isso.
Correr foi bom. Muito bom. Foi. Deixou de ser. Fez parte de um período em que emagreci, em que estava paranóica e que trouxe algumas cicatrizes psicológicas.
Mas voltar foi bom. Foi incrível ver o quanto o amor nos pode ajudar. E o amor do meu irmão, que fez isto mais por mim do que por ele. Que me puxou, que me deu na cabeça. Que não me deixou desistir e até a inscrição me pagou. O amor do meu marido, que ficou na cama, sozinho, muitas manhãs, para me ver sair para correr e que atura as minhas neuras, as frustrações e me puxa para cima. O amor do meu pai, incansável, que vê em nós um orgulho imenso. O amor da mãe e dos avós, que mesmo não concordando, são a minha melhor referência de dedicação,carinho e amor.
Não prometo nada. Não deixarei de correr e sei isso apenas.
Estou feliz. Emocionada mas esgotada. Se calhar é só porque ainda não descansei. Se calhar é só porque o meu tempo (1h57 de chip) foi uma bela shit. Se calhar é porque em vez de dormir descansada com o meu amor, vamos passar a noite a trabalhar. Se calhar é só porque acho que atrasei o meu irmão e estou com imensos remorsos. Se calhar é porque vou re-começar a estudar, ao mesmo tempo que vou trabalhar, ter uma família e encaixar treinos.
Amanhã vou orgulhar-me. Hoje é apenas isto. Mas estou feliz. Que fique assente!