quarta-feira, 29 de maio de 2013

Hoje estou livre [29.05]

Há seis meses atrás, um turno mudou-me muitas das minha certezas absolutas.
Era uma manhã normal de sexta-feira. Não estava a stressar com trabalho a mais, não estava com problemas pessoais, não estava com qualquer tipo de problema, sequer. Sabia de antemão que aquele doente tinha Hepatite C. Calcei luvas, preparei todo o material de colheita de sangue com calma e lá piquei à primeira sem dificuldade. Numa fracção de segundo e sem perceber bem como, piquei-me na agulha. Foi um acto tão involuntário, tão "não sei como aconteceu". Tinha ali o contentor de corto-perfurantes ao lado. Nem sequer me esqueci dele. 

Não têm noção do quanto isso me mudou. O dia depois fica-me difuso na memória. Preencher papelada do seguro de acidentes de trabalho, colher sangue, falar com a médica mais querida do mundo, serviço de urgência e toda a gente a dizer-me que não era nada, que não me ia acontecer nada. Minutos intermináveis à espera de burocracias. E, nos entretantos, continuava a espremer o dedo, como se todos os meus medos e vírus pudessem-se expurgar por aquele minúsculo ponto.
Nesse dia dormi mal. Nesse dia e nos seguintes e a minha cabeça estava a mil. Mas o pior de tudo é que eu coloquei tudo em perspectiva. De repente eu queria tudo. Eu queria ir viajar, eu queria ser mãe, eu queria sair todas as noites e divertir-me, eu queria mudar de área. De repente eu percebi que estalamos um dedo e todos os nossos grandes dramas passam para pequenos e ínfimos problemazitos. Que não sabemos o que é ter um futuro hipotecado com uma doença. E eu queria aproveitar a minha vida ao máximo.
Depois dessa fase de euforia, que me trouxe alguns dissabores, veio a fase da depressão. Cheguei a considerar ir a um psicólogo porque sempre que estava sozinha, chorava imenso. Chorava ao ponto da convulsão. Chorava ao ponto de pôr as músicas mais deprimentes para poder chorar mais.
Foi uma fase má. Agora olho para trás e tenho essa clarividência de ver o quanto errada estava. E com os meus devaneios, eu promovi muitas discussões, eu fui egoísta e disse coisas que não queria.

Mas depois passou. As coisas acalmaram passados 2 meses, quando o risco já se afigurava mínimo. Mas só hoje, seis meses depois, tive a certeza. E a certeza é que estou livre. Livre desse qualquer infecção.

Tudo isto para vos dizer que, muitas vezes, as nossas preocupações são tão mesquinhas! Tentem aproveitar mais a vida com todas as suas cores e sabores, só temos esta e, a qualquer minuto, tudo muda! 

Foi mais um dia sem exercício porque andei a tratar de burocracias e compras e essas coisas e só parei às 14h para pegar na dissertação. Mas estou calma. Amanhã compenso, se a formação acabar a horas :p

Em relação à alimentação:

P.A.: Galão sem açúcar + torrada em pão caseiro com pouca manteiga. Há dias em que me apetece tomar o pequeno-almoço fora, numa padaria simpática, a ler o jornal. Hoje, depois de 2h em jejum (tirar sangue + burocracias que me obrigaram a andar de um lado para o outro, praticamente a correr), era isto que apetecia. E soube tão bem!

Almoço: posta pequena de salmão + posta pequena de peixe vermelho (eram mesmo pequenas por isso é que comi as duas) assadas no forno em papelotes (sem gordura) + 3 colheres de sopa de arroz integral + tomate + laranja

Lanche: cerejas (na biblioteca da escola) + uma bolacha de arroz com um queijo fresco

Jantar: sopa + tomate + carapau que já tinha assado ao meio-dia + um pêssego e 3 morangos



5 comentários:

  1. que partilha... ainda bem que agora podes estar descansada! infelizmente geralmente só pensamos no valor das coisas quando são postas em causa, por isso nunca é demais relembrar e tentar ter presente essa mensagem que deixas aqui hoje... há que aproveitar cada dia :) depois voltas à carga nos treinos, a alimentação está muito certinha de certeza que não vão haver "estragos" :) beijinhos

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  2. Obrigado pela partilha! Imagino a felicidade, o alívio. De facto às vezes criamos cada filme na nossa cabeça, que depois até nos sentimos palermas ;)
    As torradinhas para mim são uma perdição! ;)

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  3. Que história! Felizmente que agora já tens certeza que o teu futuro não vai ficar comprometido com hepatite C, e que podes, efectivamente, aproveitar a vida. Imagino o stress e a ansiedade que deves ter sentido. Gostei mesmo muito da mensagem que passaste: temos de valorizar cada dia, cada momento, e não nos deixarmos absorver por coisas mesquinhas! A tua mensagem teve ainda mais significado porque ultimamente, na minha família, tenho tido a minha mãe doente e eu própria tenho passado por alguns "micro" problemazinhas de saúde.
    Um grande beijinho e obrigada por esta partilha inspiradora.

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  4. essas coisas realmente fazem-nos repensar tudo, é incrível! por isso é que o velho cliché de aproveitar cada momento, viver intensamente cada dia, devia ser algo que todos levaríamos a sério, mas não! ainda bem que estás livre :) fico muito feliz!
    beijinho

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  5. Obrigada por teres partilhado este post. Confesso que o meu coração foi acelerando gradualmente. De facto, às vezes temos momentos mesmo mesquinhos e não nos apercebemos que metade do mundo tem problemas bem maiores. Há que respirar fundo que, quer vejamos ou não, o sol está sempre no céu!

    Beijinhos**

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